De pernas pro ar!

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

O recheio

O pacote de biscoitos estava fechado. Sentada, esparramada no sofá. A jovem, lá pelos seus 20 e poucos anos está com fome. Puxa a fita lateral, abrindo com delicadeza o pacote. Os biscoitos são do tipo comum, com recheio de chocolate.

Cultuou desde a infância um jeito próprio de comer esse tipo de biscoitos. Um por um, abre e separa o recheio da parte crocante.

Come primeiro a parte dura, sem-graça e difícil de engolir. Depois vem a hora de saborear a parte mole, doce e delicada.

Com a TV desligada, os devaneios tomam conta. E a jovem começa a comparar sua vida com aquele processo de comer biscoitos.

Veio primeiro a fase dura e sem-graça. É bem verdade que foi preciso tomar bons copos d'água para ajudar a engolir certas coisas. Mas chegou o momento de se fartar com a melhor parte. Açucarar a boca, ativando hormônios, como faz o chocolate que libera endorfina, relaxando os músculos ao mesmo tempo em que dá energia, e deixando estampado em seu rosto uma leve expressão de satisfação.

Foi ela que cultivou esse jeito de encarar as fases da vida, ou foi a vida que resolveu separar a parte boa da ruim? É a jovem que prefere acreditar que depois de se esforçar e comer [ até com certo gosto] a parte ruim, tem sempre a parte boa para deixá-la contente?

Prefiro acreditar que em todo pacote de vida há vários biscoitos, cujo sabor vem ao acaso. Cada biscoito, cada momento da vida, tem sempre partes duras, que podem (ou não), vir recheadas com momentos bons. Cabe a cada um decidir o melhor modo de saborear os biscoitos, e não deixar nenhum farelo para trás.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Quando me amar de verdade

Quando me amar de verdade,

Irei parar de falar exatamente o que penso, na hora que penso.No exato momento que falo, é ótimo. Mas as conseqüências nem sempre são as esperadas.

Quando me amar de verdade,

Não me preocuparei tanto em ser agradável e bem quista por todos. Nem todo mundo merece meu sacrifício. E alguns, apesar de merecer, não me deixam confortável quando me torno a perfeita companhia.

Quando me amar de verdade,

Esquecerei essas besteiras de um vida saudável. Porque não há nada mais estressante que fazer dieta. E sei que nesse dia descobrirei que não há nada mais saudável que ser amada exatamente do jeito que somos. Isso sem dúvida é um santo remédio para o corpo e para a mente!

Quando me amar de verdade,

Correrei atrás dos meus sonhos sem medo. Porque sei que o maior medo que tenho é de desapontar a mim mesma. E, aprendendo a não cobrar tanto de mim, saberei me perdoar no momento que sentir que dei o meu melhor.

Quando me amar de verdade,

Perderei a vergonha de assumir que escondo mais coisas de mim do que dos outros.

E, quem sabe nesse dia terei coragem de ler tudo aquilo que escrevi em momentos ímpares como este.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Como se fosse...é!

Há dias que não sinto meus ombros relaxados
Os últimos acontecimentos não têm sido fáceis
Coisas bizarras estão acontecendo comigo

Palavras mal colocadas me machucam
Olhares indiscretos me penetram
Minha mente me confunde e me enlouquece

Fatos sem importância passaram a importar
No momento mais propício não sei o que falar
Ele fala como se acreditasse
Ela concorda como se importasse

O espelho reflete a mais profunda angústia
Mas esconder é inútil quando não se sabe o quê
Onde encontrar a solução do problema que não se identifica?
Ele sabe a resposta, mas é o problema que não vê

E no segundo mais desesperador
Naquele instante que o fôlego esvai-se
Ela diz 'tudo bem'
A frase é vaga
Vaga pelo universo sem encontrar destino

Ela fala como se acreditasse
Ele concorda como se importasse

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Guardar pra lembrar

Preciso guardar
Guardar tudo
Guardar bem guardado para não esquecer

Aquele livro, que tanto cito, guardei.
Aquele outro que nunca li, também está guardado. Quem sabe um dia descubro que é tão interessante quando a capa.
Na caixa ao lado da cama guardo também,
O poema que recebi daquele romântico namorado.
Os tradicionais bilhetinhos trocados com as amigas durante as aulas.
Provas. Seja o resultado bom ou ruim.
Fotos!Ah sim, fotos!São tantas, como esquecê-las?
As lembranças e fatos configurados naquelas fotografias nem sempre são boas, mas tê-las é extremamente importante.

O vidro de perfume que usava na infância ainda está na gaveta.
Junto ainda estão laços, presilhas, botões e brincos desparcerados ou quebrados.
Não estão lá por acaso. Também não são lixo ou velharia, como diz minha mãe.
Entendam como sendo cacos do espelho que se quebrou e que antes refletia uma vida que hoje é apenas passado.

No fundo do meu guarda-roupa, guardo uma grande sacola. Nela estão, amassados, retorcidos e até rasgados, pedaços grandes de papel. Restos de apresentações de trabalhos, enfeites, embrulhos de presentes.

O que me assusta é saber que um dia minha mente vai começar a trabalhar cada vez mais lenta e que essas lembranças começaram a ser esquecidas. Não posso esquecer... não posso esquecer de lembrar de guardar aquilo que não posso esquecer. Porque ainda falta muito o guardar. Guardar bem guardado para não esquecer. Já que minha lembrança é falha e há lembranças que não podem ser guardadas em caixas.

domingo, 19 de agosto de 2007

O porquê dessas lágrimas

Essa noite poderia ter um final feliz. Feliz não, tranquilo. Ou, pelo menos, terminar melhor que começou. Mas você precisava dizer isso? Distorcendo minhas palavras ao teu bel prazer, nessa busca incessante de motivos pra me fazer sentir culpada por nada. Bagagem de suas próprias frustrações.

Sem pensar o quanto me desapontaria, falou coisas erradas a meu respeito. É triste, é irreversível, e foi homologado em primeira instância.

Não reconheço essa lágrima que escorre em meu rosto. Escondo de mim mesma que essa minha teimosia às vezes me põem em enrascadas.

E enquanto o carro passa por essas ruas desertas, imagino o quanto seria perfeito estar só nesse momento.Onde minhas idéias, lágrimas e exclamações estariam livres para se propagar dando sentido aos repentinos gritos que ecoam em minha mente.

Citando meu aspirante a poeta, reconheço que vivo de remendos, de soldas mal-feitas e colagens que me salvam. Eu sou a agulha e a linha.