De pernas pro ar!

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Minha experiência com Estamira

A mente tenta fugir do que o coração teima em pensar.
Uma esperta fuga por algo que desembarace esses pensamentos cansativos.
A realidade muitas vezes cansa os olhos e a mente.
Fere o inconsciente da gente.
Inverte a esperança e frustra a imaginação.

O que vi afugentou de mim tudo que pensava ser real. Aqueles olhos vermelhos e ressecados, aquela pele quebradiça do sol, cheia de imperfeições causadas pelo tempo. Tempo de vida que lhe custou muitas lágrimas, tempo que judiou da sua inocência, tempo que confundiu sua fé. Esse mesmo tempo presenteou-a com sabedoria e castigou-a com a insanidade. Tanto mal tornou-lhe-a boa. Fez do sofrimento uma bagagem indispensável para saborear a vida.

Causou tremendo espanto o meu não espanto. Já que me desprendi de críticas superficiais e observações maldosas, hoje me atenho a fazer colocações sobre o sinto e o que vejo, acreditando que essas experiências, por me abalarem, me tornam mais capaz de ser distante, mas nem por isso menos envolvida ou engajada.

Dica: www.cranik.com/estamira.html

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Gastronomia de você


Peguei você na prateleira mais alta do mercado. Tive que me esforçar muito para alcançá-lo, já que sou muito pequena.
Decidi fazer de você a melhor refeição que já fiz na vida. Fiz tudo baseado em experiências anteriores. Afinal, depois de tanto errar, hoje sei o ponto certo que devo assar e a quantidade exata de ingredientes que devo pôr em cada etapa.
Adocei o amargo café dos meus dias com suas palavras.Temperei a mistura insossa e sem sal das minhas noites com suas carícias.
Fervi com o calor da sua pele, congelei com a sua falta, piquei com a força dos seus braços, e servi tudo acompanhado daquela bebida que me embriaga como o seu perfume.
Fiz de você meu prato principal e minha refeição preferida.

Porque tudo que ele escreve, eu leio.

"Tu achas que eu estou aqui. Tu achas que está conversando comigo, e que eu presto atenção, que eu concordo, respondo, discordo, te ouço, argumento e novamente discordo. Mas eu não estou aqui. Eu não estou nem aí.

É que por tantas vezes eu achei que tu estivesses comigo, tantas vezes eu, inclusive, jurei que estava conversando contigo, e que tu prestavas atenção, concordava, respondia, discordava, me ouvia, contra-argumentava e, novamente, discordava. Mas você não estava aqui. Você não estava nem aí.

E é assim mesmo, sumidos de nós mesmos, que sobrevivemos aos golpes dos dias. Não é por acaso que surgem em nossos caminhos esses buracos. Nosso caminho é o mesmo, nosso vetor é o mesmo, mas é a nossa direção que nos faz bater de frente. E bater de frente dói demais, justamente porque a gente sabe exatamente tudo sobre o obstáculo que se aproxima, mas somos sempre acometidos pela impossibilidade do desvio.

Na verdade, a gente gosta mesmo é do conflito. E isso nunca vai mudar."

Texto e foto de Lucas Silveira.