De pernas pro ar!

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Mas eles apodrecem, fazer o quê?

Morangos Mofados, livro de Caio Fernado Abreu. (Agir, Rio de Janeiro, 2005, 158 páginas). Publicado originalmente em 1982, a obra mais conhecida de Caio Fernando Abreu traz inquietações e constrangimentos, tratando do cotidiano de indivíduos que estão sufocados em suas próprias vidas e histórias. O escritor gaúcho, nascido em 1948, na cidade de Santiago do Boqueirão, atuou como jornalista, escritor e editor de livros. Lançou onze livros e foi traduzido para diversas línguas.

“Morangos Mofados” trata de contos que aparentemente não possuem o mesmo viés, mas que, ao fim do livro, parecem se trançar, tecendo narrativas sobre um tema em comum: a fragilidade e a intempestividade de ser humano. O livro é dividido em três partes: “O Mofo”, “O Morango” e “Morangos Mofados”. Os contos de o “Mofo” foram assim classificados já que passam a ligeira impressão de que as relações neles narradas estão em estágio de decomposição, seja por falta de estímulo, seja por agreções sofridas por ambas as partes. Os contos do “Morango” possuem uma temática diferente, no que se refere ao conteúdo das relações narradas, porém não fogem do tema principal. Morangos Mofados é o último conto e consegue encerrar o livro dando um fio de esperança nas relações existenciais, apesar do provável fracasso esboçado pelo autor.

Os contos abordam o fracasso daqueles que, de alguma forma, possuem dificuldade de comunicação, seja ela com o próximo ou consigo mesmo. Em uma atmosfera excessivamente urbana, as personagens compartilham de angústias nas quais estão presas. Em vários contos, as personagens se utilizam de formas diversas de escapismo, como drogas e relações sexuais. É possível perceber uma leve conexão entre a problemática de cada conto, por exemplo, o embaraço do auto-conhecimento. Barreiras tanto existenciais quanto sociais também estão presentes, a solidão, a frustração, o erro no julgar o outro, a não-adaptação ao próprio corpo, o homosexualismo, a desigualdade financeira, o desapego à vida. Muitas narrativas chocam pela linguagem utilizada pelo autor, com o uso indiscriminado de expressões chulas ou deveras coloquiais.

Caio Fernando Abreu apresenta em “Morangos Mofados” o estilo pouco rebuscado presente em literaturas da contracultura. Movimento dos anos 60, em que os jovens inovaram estilos, voltando-se mais para o anti-social, focado principalmente nas transformações da consciência, dos valores e do comportamento, e pequenas realidades do cotidiano. O texto de “Morangos Mofados” dificulta o entendimento por falta ou inadequação das pontuações, mas que, por vezes, dá liberdade de interpretação ao leitor.

Um livro repleto de conflitos fortes e marcantes, que trazem à tona discursões pouco usuais, principalmente em se tratando do período em que foi publicado (anos 80). Cada conto tem uma evolução gradual de conflitos, que prendem e perturbam a atenção. Personagens dignos de pena, mas que remetem a uma identificação com o leitor muitas vezes constrangedora.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Um breve comentário sobre o caso da jovem presa com 20 homens no Pará

Uma moça, uma jovem, uma menina recém-tornada mulher. Aos 15 anos cometeu um erro, um crime aos olhos do Estado. Foi presa por furtar, mas a condenaram por um crime maior, um crime muitas vezes imperdoável, mas em alguns casos, afiançável. A jovem foi condenada por ser mulher.

Dizem por aí que ela é culpada. A mulher é uma cobra que envenena os homens contra seus próprios extintos. Dizem também que quem erra tem que pagar, independente da natureza do erro. Poucos têm coragem de dizer que a moça era quase uma menina. Menina que foi vítima de violência. Usaram sem excrúpulos, seu corpo e sua alma.

Pouco se ouve sobre aqueles os quais não se pode culpar. Nada parece acontecer aos que tinham o dever de guardar e proteger. Homens condenados por crimes que se sentem no direito de cometer outros crimes. Outros homens que cometem crimes amparados pela lei.

A nitidez da podridão do Sistema Carcerário no Brasil parece não mais nos abalar. É bem verdade que nos dizemos revoltados, mas nossa atitude não é de revolta, é de omissão. O Estado fechou os olhos para o problema, e a sociedade se calou diante das consequências.

Para situar:

http://www.cabecadecuia.com.br/noticia.php?id=14178