Morangos Mofados, livro de Caio Fernado Abreu. (Agir, Rio de Janeiro, 2005, 158 páginas). Publicado originalmente em 1982, a obra mais conhecida de Caio Fernando Abreu traz inquietações e constrangimentos, tratando do cotidiano de indivíduos que estão sufocados em suas próprias vidas e histórias. O escritor gaúcho, nascido em 1948, na cidade de Santiago do Boqueirão, atuou como jornalista, escritor e editor de livros. Lançou onze livros e foi traduzido para diversas línguas.
“Morangos Mofados” trata de contos que aparentemente não possuem o mesmo viés, mas que, ao fim do livro, parecem se trançar, tecendo narrativas sobre um tema em comum: a fragilidade e a intempestividade de ser humano. O livro é dividido em três partes: “O Mofo”, “O Morango” e “Morangos Mofados”. Os contos de o “Mofo” foram assim classificados já que passam a ligeira impressão de que as relações neles narradas estão em estágio de decomposição, seja por falta de estímulo, seja por agreções sofridas por ambas as partes. Os contos do “Morango” possuem uma temática diferente, no que se refere ao conteúdo das relações narradas, porém não fogem do tema principal. Morangos Mofados é o último conto e consegue encerrar o livro dando um fio de esperança nas relações existenciais, apesar do provável fracasso esboçado pelo autor.
Os contos abordam o fracasso daqueles que, de alguma forma, possuem dificuldade de comunicação, seja ela com o próximo ou consigo mesmo. Em uma atmosfera excessivamente urbana, as personagens compartilham de angústias nas quais estão presas. Em vários contos, as personagens se utilizam de formas diversas de escapismo, como drogas e relações sexuais. É possível perceber uma leve conexão entre a problemática de cada conto, por exemplo, o embaraço do auto-conhecimento. Barreiras tanto existenciais quanto sociais também estão presentes, a solidão, a frustração, o erro no julgar o outro, a não-adaptação ao próprio corpo, o homosexualismo, a desigualdade financeira, o desapego à vida. Muitas narrativas chocam pela linguagem utilizada pelo autor, com o uso indiscriminado de expressões chulas ou deveras coloquiais.
Caio Fernando Abreu apresenta em “Morangos Mofados” o estilo pouco rebuscado presente em literaturas da contracultura. Movimento dos anos 60, em que os jovens inovaram estilos, voltando-se mais para o anti-social, focado principalmente nas transformações da consciência, dos valores e do comportamento, e pequenas realidades do cotidiano. O texto de “Morangos Mofados” dificulta o entendimento por falta ou inadequação das pontuações, mas que, por vezes, dá liberdade de interpretação ao leitor.
Um livro repleto de conflitos fortes e marcantes, que trazem à tona discursões pouco usuais, principalmente em se tratando do período em que foi publicado (anos 80). Cada conto tem uma evolução gradual de conflitos, que prendem e perturbam a atenção. Personagens dignos de pena, mas que remetem a uma identificação com o leitor muitas vezes constrangedora.
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